06 julho, 2010

Para quem não gosta de gatos

Carolina Mourão

Universo, Via Láctea, Terra. Baleias, cavalos, bois, pássaros, cães, gatos e gente: Todos caímos aqui sem saber como. Fomos enviados por uma força matemática, inteligente, arquitetônica - não importa sua fé. Tanto, que a ciência se aproxima cada dia mais da existência de Deus em suas equações. Aqui, somos todos de carne, nervos e ossos. Sentimos coisas como medo, fome, dor e alegria! Dizem que até os corais – que não classificados como bichos nem plantas – sentem dor e emoções que mudam com suas cores. E por que nos apiedamos de uns, e não de outros, se todos merecemos igualmente este lugar? E por que repetimos: "as baleias são lindas! Os cachorros são inteligentes e amigos... Odeio gatos!"

Gatos não são diferentes de outros bichinhos. Gatos querem abrigo como todos os animais domésticos, querem segurança, sentem medo, querem um recosto quentinho porque são seres sociais, como nós. Não abanam o rabo porque sua natureza é diferente, porque todas as espécies manifestam-se conforme sua exclusiva determinação genética. Daí, concluímos: “bicho interesseiro, só come e dorme, não ama ninguém”. Ora, queremos que os gatos façam o que para eles é impossível: abanar o rabo pra lá e pra cá, ora essa! Não vai dar, foi mal. Assim como eles não exigem que a gente fique latindo nem miando nem ronronando para agradá-los. “Mas gatos se lambem, são sujos, transmitem doenças”. A mentira, quando é repetida muitas vezes, se torna verdade. Goebbels, o publicitário de estimação do abominável Hitler, sabia disso. E tinha razão, sendo genial em seu tenebroso propósito. Convenceu até altas patentes, gente estudada, combativa, de espírito crítico. Mas a repetição é água mole em pedra dura. A gente parece papagaio, e sem raciocinar, reproduz o mantra contra os gatos até que a coisa se torne cultural, até que as crianças também não queiram mais chegar perto, e finalmente aniquilemos todos da face da Terra achando isso muito natural, como fizeram os nazistas com os judeus e os ciganos. Fato é que repetir sem pensar é da natureza dos papagaios, e não do homem. Esse é o nosso pior flagrante. Queremos que gatos sejam cachorros, enquanto somos papagaios e não pessoas. Condenamos os gatos por não nos agradarem com atrações de outras espécies, enquanto desagradamos quase todos os animais sob nossa tutela que esperam tanto de nós – com nossas incríveis e inúteis ferramentas e parafernálias funcionais que não servem para nada!

Sim, gatos transmitem doenças somente se não forem cuidados. Cães também. Gente mais ainda. Não tem nada mais podre do que gente sem higiene. Nesse quesito, os gatos são bem mais limpos no auge de sua mendicância. Gente fede até quando toma banho. Gato é o que é: dorme delícia, não enche o saco nem manifesta carência excessiva. É discreto – parece até que sabe que se não for, será eliminado. Consome pouca ração, não gosta de passear, já nasce ensinado a fazer cocô na areia. Ninguém sabe como! É um tipo de mágica de Deus, que deu para eles esse talento diferenciado porque os ama também. Baleias, cavalos, bois, pássaros, cães, gatos e gente: todos temos nossos talentos particulares. Viemos para nos completar nessa nave miúda, solitária e perdida no universo. E que medo desse imenso vazio, se não formos todos nós juntos nessa viagem, agarradinhos. Temos uma grande responsabilidade que os animais não têm porque temos um cérebro privilegiado. Falamos e temos a capacidade de entender esse complexo código, mas somos incapazes, ainda, de sentirmos o que há de mais elementar dentro de nós: tolerância, amor e caridade. Sobre passarinhos engaiolados, o Hallau dos cavalinhos amputados em vida para o consumo de carne no oriente médio – somente nessa forma de abate; o extermínio dos bois à toque de caixa; e a “toilette” dos suínos antes do corredor, falaremos depois. Eles merecem o mesmo número de linhas.

7 comentários:

Unknown disse...

Texto perfeito e escrito com MUITA sabedoria! Resta eu dar meus sinceros PARABÉNS!
Abs, Fabiana Coelho.

Suzana Coelho disse...

Muito bom. Aguardo, ansiosa, os outros textos.
Suzana Coelho

Anônimo disse...

Os gatos e sua sabedoria, realmente devemos admira-los como são.

Janaina

Anônimo disse...

Sou muito suspeita pra falar dos nossos felinos! Sou uma apaixonada por bichos em geral mas os felinos são minhas paixões eternas!!! Tenho duas gatinhas manhosas e preciosas em casa. Só o que posso dizer é que sou uma previlegiada por ter tido a oportunidade de adotar e salvar de uma dose de veneno três das duas gatinhas que tenho anos atrás e hoje são elas que fazem da minha vida e de mim um ser humano melhor e mais amoroso. Gí Gorgônio.

Gabi disse...

Adorei a frase "Condenamos os gatos por não nos agradarem com atrações de outras espécies, enquanto desagradamos quase todos os animais sob nossa tutela que esperam tanto de nós – com nossas incríveis e inúteis ferramentas e parafernálias funcionais que não servem para nada!". Perfeita!

Suzane Faria - SVPI disse...

Só quem tem um gato (ou muitos como eu!) sabe a delícia que são! Texto excelente!

Augusto Abrigo disse...

Obrigada meninas, nós do Augusto Abrigo pensamos assim mesmo.
Espero que gostem dos posts e dos artigos que estamemos coloando no ar futuramente.
O Blog, tem menos de duas semanas. A intenção é divulgar o Abrigo, nossos Anjos de Patas para adoção e mostrar que a vida pode ser bem melhor ao lado deles.
Para quem morar em Brasília, ou vier aqui, venha nos visitar. Serão recebidos com muitos miados e latidos
Abraços, latidos, miados do Augusto Abrigo.
Angélica Bessa
Augusto Abrigo

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