16 março, 2011

Somos insanos? E você?

 
 
Barão e Chuck, agora com sua nova família
 

Determinados depoimentos me fazem refletir o quanto o caminho é extenso, mas fica para traz logo que escolhemos dar o primeiro passo rumo à caminhada que envolve os cuidados, as necessidades e os perigos de dar assistência aos animais vítimas de abandono. 

Para aqueles que não conhecem e não sabem a historia toda do Abrigo, que leva o nome do pai de Eliane, Augusto, este Abrigo começou como lar temporário para alguns protetores. Tornou-se Abrigo pela inexistência de lares definitivos para os que são desprovidos de beleza física, não são jovens, peludinhos, são deformados e vitimas de maus tratos. Não é uma empreitada fácil, nem de longe. 

As selvagerias que assistimos diariamente são incontáveis para aqueles que fazem a proteção nos bastidores. Reservar parte de sua vida contra isso é abdicar de muitas coisas: mudar hábitos alimentares (consumir carne de toda a espécie), hábitos de diversão (rodeios, vaquejadas e touradas), hábitos de consumo (roupas e sapatos de origem animal.). É abdicar da companhia de alguns amigos e familiares, de alguma diversão, de alguma compra que é supérflua diante da necessidade dos animais. É abdicar da sensibilidade de "não poder ver isto ou aquilo”, ou “não posso ver se não eu choro”, “ou não exponha essas imagens fortes”, ou “animais fofinhos chamam mais a atenção”, como muitas vezes ouvimos e lemos em depoimentos deixados aqui. 

Dizem que a tendência de nos rebelarmos contra os seres humanos ou de a abafar a confiança neste, é o primeiro passo para a insanidade. Pode ser, gostaria de um parecer psiquiátrico sobre isso, não de reflexões especulativas.

Eu gostaria mesmo é de ver alguém que lida com a crueldade imposta aos animais diariamente, em um dos seus mais altos níveis, continuar confiando e amando a raça humana:como quem retira de uma lata de lixo filhotes lindos de gatos; quem pega um cão vivo atropelado e abandonado no acostamento; quem extrai 423 larvas da orelha de um Poodle por este ter sido abandonado por seu dono; quem acolhe animais rejeitados na rua por serem idosos; quem recebe uma cadela com sua vagina e anus quintuplicados de tamanho por ter sido estuprada dias e dias por um homem; quem acolhe um cão de grande porte que foi encontrado abandonado ensanguentado, quase morto, sem olhos, sem pedaço da boca ou do nariz simplesmente por ter sido o perdedor da rinha que alguns humanos assistiam e apostavam; quem remove uma faca do ventre de uma cadela prenhe; quem retira filhotes vivos de uma mãezinha prenhe já morta por ter sido agredida a chutes e pauladas. Não será tarefa fácil!

Alguma anormalidade nós temos, pois dia-a-dia continuamos nesta batalha que não termina no fim do dia, quando apagamos a luz, e não começa apenas quando o sol chega para iluminar a escuridão. É constante. No exato dia que doamos um animal para uma família, aparece outro espancado por um ser humano. No dia que nos alegramos, pois tivemos visitas e um mutirão de ajuda, chega um Dog Alemão de 14 anos, que só movimenta o pescoço, cheio de parasitas pelo corpo e um cão de grande porte com metade do focinho arrancado. Certamente não foi de um modo carinhoso.

Quem quiser, pode fazer o teste passando uns dias em nosso Augusto Abrigo e depois ao sair de lá, voltar para o seu lar, pregando o amor e a fraternidade a toda a humanidade. Vai nos fazer um benefício, pois necessitamos de pessoas assim no mundo de hoje, mas acredito não sermos nós a desempenhar essa bela empreitada. 

Muitos indivíduos mundialmente populares há milhares de anos, foram incinerados vivos, apedrejados em praça pública, crucificados, degredados, perseguidos, pois eram considerados insanos por seus atos, pesquisas e opiniões. Até recentemente, os abolicionistas da escravatura foram considerados loucos e foram caçados. Todos eles hoje são exemplos adotados. Meramente por que saíram de suas zonas de conforto e foram em busca do que consideravam o apropriado a ser feito: deram a cara a tapa, tiraram as máscaras, assumiram seus ideais. 

No Augusto chegam atos de insanidade contra animais e não podemos fazer absolutamente nada contra essas pessoas, não temos a quem recorrer. Poderíamos ir à delegacia, fazer um BO (Boletim de Ocorrência) e esperar que o Estado exercesse sua tutela constitucional? Já fizemos.

Ouvimos na própria delegacia, com o notável pesar de quem nos ouviu, que haviam assuntos mais graves a serem identificados e eram prioritários, e não sobre alguém que espancou, estuprou, esfaqueou, um cão ou um gato. Oras, esses verbos também são aplicados de pessoas para pessoas, mas nós, que tentamos de alguma forma, certa ou errada, auxiliar esses animais é que somos taxados de insanos. 

A insanidade paira a nossa volta. E mesmo sendo insanos no conceito de alguns, conseguimos também sermos pessoas iguais a você. Estudamos, trabalhamos, temos família, temos filhos, pais e mães idosos, temos cães e gatos em nossos lares. E assim, nossa insanidade principia quando saímos de nossos lares, da companhia de nossa família para ir em busca de nosso sonho de ver um mundo melhor para alguns animais. Outros taxados de insanos cuidam de idosos em asilo no fim de semana; outros passam o domingo no SOS do Hospital de Base como voluntários na ala dos queimados, ou dos acidentados; outros em Abrigos de crianças abandonadas, acabam por adotar crianças assim como nós adotamos cães e gatos; alguns vão às penitenciárias ensinar a “Palavra de Deus”; outros são médicos, professores e músicos voluntários nas mais diversas frentes de trabalho; outros deixam seus lares e viajam dias para dedicar-se a cuidar de seus semelhantes que sobreviveram às guerras e acidentes da natureza em outros países, estados e cidades. 

Nossa insanidade começa quando você percebe que não é capaz de fazer o mesmo,  e o máximo que vai conseguir é criticar nosso trabalho e nossa dedicação. 

Abrigos de animais não são a solução, não resolverão os problemas de superpopulação, abandono, descaso, maus tratos, sabemos. A solução é você castrar o seu animal, não abandoná-lo quando ele ficar idoso.  A solução são políticas públicas para sancionar e punir a violência contra os animais. Políticas públicas que promovam a educação nas escolas para que as crianças e jovens  entendam que um animal sente frio, fome e medo. Animal não é brinquedo, tão pouco saco de pancada!

Sabemos que nossa dedicação, nosso empenho, nosso investimento financeiro não trarão recompensa financeira, mas trarão emoções fortes, alegrias incondicionais, sorrisos jamais vividos, e prazer de ver que de grão em grão realizamos o trabalho a que decidimos nos dedicar. O vídeo acima mostra tudo isso. 

Como tudo na vida, no Augusto temos altos e baixos, temos nossos limites e nele estamos nos mantendo, colocamos metas e nelas estamos centrados, não sei se de maneira certa ou errada, mas estamos nos cercando de pessoas que estão de corpo e alma envolvidas no "Projeto Augusto". 

O Augusto Abrigo também abriga  Animais humanos que, como nós, querem amparar Animais não humanos, ainda que seja apenas para os poucos mais de 500 que estão sob nossa guarda. Eliane Zanetti não centra tudo em si, ela espalha sementes. 

Se isso é ser insano e desequilibrado emocionalmente, então somos. 

Angélica Bessa

17 comentários:

Anônimo disse...

Texto maravilhoso.. marcante, triste, mas sincero.

Augusto Abrigo disse...

É nossa realidade, mas você viu o vídeo?
O vídeo mostra como tudo é compensado.
Abraços
Angélica Bessa

Janaina de Assis disse...

Muito lindo o texto. Muito lindo o video também.
Deve ser muito difícil ver tantas atrocidades e ainda acreditar no ser humano. Mas vocês é que me fazem ter esperanças na nossa espécie.
Muito feliz por vc minha irmã, com o coração cada dia mais forte pra aguentar tanta emoção e colocar a mão na massa.

Cinthia Kriemler disse...

Chorei que me acabei com o filme! Meu querido Chuck agora tem tudo aquilo para ele! E o Barão? Feliz, de rabo abanando! Que sejam felizes, todos eles. Essa família é abençoada. Desejo tudo de melhor!

Augusto Abrigo disse...

Jana, é dificil sim, mas a família Augusto e tantas outras que dão amparo aos animais também me inspiram.
Beijo

Andrea disse...

Por amor e compaixão tudo vale a pena.
Estou a cada dia mais fã do trabalho de vocês.
Contem comigo, sempre.

thais disse...

Parabéns Protetores!!!!

Augusto Abrigo disse...

É isso Andrea...amor, amor e amor.
Venha nos visitar.
abraços,
Angélica Bessa

Augusto Abrigo disse...

Obrigada Thais, mesmo...
Angélica Bessa
Venha nos visitar.

Simone disse...

Chorei que me acabei com o filme! (2) Geeeente, o barão correndo daquele jeito, meu coração não aguenta!!! rsrsrrsrsss Finalmente terão sua família de verdade... E que muitos também consigam esse sonho.

Augusto Abrigo disse...

Simone, e pense que eu também chorei enquanto estava lá, quando mostrei o filme para Eliane, e ainda depois que terminei de editar o filme, menteiga né?
A gente sempre chora, por isso estou começando a dividir isso com vocês, acho que precisamos mostrar mais o que acontece por aqui.
Abraços
Angélica Bessa

Suzana Coelho disse...

Olá, Angélica,

Acredito mesmo que somos falhos nessa parte: apresentar os animais adotados, colher depoimentos dos adotantes.

Precisamos, de alguma forma e urgentemente, sensibilizar a sociedade para a adoção.

A adoção deve ser o nosso foco, pois, sem ela, fica difícil amparar mais animais.

O que podemos fazer?

Vamos pensar em alternativas.

Suzana

Unknown disse...

Chorei ao ver o vídeo, amiga.
São essas cenas que nos dão forças para continuar a nossa luta.
Bjss,
Alê Toledo

Augusto Abrigo disse...

Suzana,

O que fazer? Acredito que quando todos os grupos de protetores investirem nessa atitude de forma densa, fazendo essa exposição, será bem mais fácil demonstrarmos o quanto a adoção é gratificante.

Principalmente os grupos que tem, mídia, que circulam em meio aos governantes e tem muita credibilidade da sociedade.

As campanhas são sempre baseadas no “Adote”, mas normalmente não mostram o que acontece depois.

Nós expomos nossas nossas histórias no Facebook, Orkut e algumas aqui. Nem sempre todas, tendo em vista que não é sempre que estamos com câmeras fotográficas e filmadora disponíveis.

Em nossa opinião, uma forma de estimularmos a adoção é e mostrar os animais adotados e suas novas famílias. Assim fecha o círculo a abre a mente das pessoas.

Eu mesma, só percebi a benção de uma adoção, após adotar a Serena. É muito gratificante.

Abraços
Angélica Bessa

18 de março de 2011 22:20

Augusto Abrigo disse...

É isso Alê, por isso estou mostrando, precisamos nos fortalecer diariamente.

Beijo
Angélica Bessa

Gabi disse...

Lindo texto, lindo trabalho. Muito obrigada por essa insanidade, me faz não desacreditar completamente na humanidade.

Augusto Abrigo disse...

Obrigada Gabi, venha sempre nos visitar. Seja bem vinda.
Angélica Bessa

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