02 julho, 2011

Como cheguei aqui

 


Entrei em um Pet shop e encontrei uma veterinária, que muito delicada, muito meiga me informou sobre todos os assuntos que eu perguntei. Notando que eu adoro cães, falou-me da existência de um Abrigo para animais. Em princípio fiquei muito interessada, mas depois, fui me ocupando, e me afastei da idéia de ir neste Abrigo. Medo.

Ela me enviava alguns e-mails sobre o Abrigo e depois parou. Aquele silêncio me fez pensar que ela havia desistido de mim, e com certeza foi o que aconteceu. Resolvi ligar para ela, Dra. Simone Buss, ela me encaminhou para Livia, voluntária assídua que me levaria até o Augusto Abrigo.

Antes de seguirmos para lá, fomos ao Guará, pegar um cão que vivia na rua, e guardava uma cadela que havia tido uns filhotes, tinha dono, mas os filhotes eram dele. As voluntárias o chamaram de Marido, nome pelo qual ele atende até hoje.
Em seguida fomos ao Núcleo Bandeirante, onde mora outra voluntária, Alessandra, na rua dela haviam 3 filhotes de cães mestiços de pastor-alemão, muito mestiços mesmo. São hoje chamados de Lobinhas 1,2 e 3.

Neste mesmo dia conheci Fabiany e Gisele, que estavam nessa operação resgate. Eu estava na observação, mas por pouco tempo, pois elas não dão trégua: quer entrar na chuva, então se molha logo.

Seguimos então e quando cheguei à porta do Augusto Abrigo, meu coração estava em ritmo de bateria de escola de samba, misto de ansiedade e medo.
Quando entrei, notei vários cães correndo soltos, brincando e recebendo as meninas com amor. Elas sabiam os nomes dos cães e isso me deixou fascinada, pois não eram 10 ou 20, eram muito mais que isso. Soltos havia uns “cento e poucos”, e nas baias de quarentena, e tratamento mais alguns.

Lívia me apresentou à Eliane Zanetti, que me recebeu com carinho, me apresentou alguns cães e gatos contando as histórias deles e após as apresentações, me deixou a vontade, e eu saí andando pelo Abrigo, fotografando os animais.


Os índios não gostavam de ser em fotografados, diziam que as fotografias tiravam-lhes um pedaço de suas almas. Sinto o mesmo sobre a fotografia: a lente da câmera não filtra o sentimento do que vejo, ela abre o campo e eu experimento a absorção da imagem capturada. Talvez influenciada pela história dos índios, talvez porque eu sinto mesmo que acontece essa transferência de energia.

Comecei a sentir aqueles olhares, aquelas expressões, aqueles abanos de rabos dos cães. Dos gatos, o ensurdecedor silêncio de seus movimentos e a profunda perfeição de seus olhares quando temos a graça de sermos percebidos por eles.

Parei em um determinado momento, sentei à sombra de uma árvore com uma profunda tristeza na alma e me perguntei após olhar tantos pares de olhos cheios de pureza: Por que eles não estão em suas casas com seus donos? Por que alguém abandona cães e gatos? Por que alguém fura o olho de um gato para ver se o gato sente dor? Por que alguém pode atropelar um cão e não prestar socorro? Por que alguém deixa sua cadela cruzar e dela tira seus filhotes jogando-os em um container de lixo? Por que alguém abusa sexualmente de uma cadela ou um cão? Por que uma pessoa queima um cão vivo? E como ele, o cão, conseguui sobreviver e ainda abana o rabo para semelhantes de quem os causou essas dores?  Essas pessoas dormem após praticar esses atos?

Não tinha resposta. Senti-me impotente, uma formiga diante da leveza e tranqüilidade da Eliane Zanetti. Senti-me a pessoa mais inútil que eu conhecia.
Voltei para casa. Mais um mês passou e eu tentei esquecer aqueles olhares, aquelas imagens. Não consegui. Ficava olhando em meu monitor aqueles olhos e então pensei: Vou criar um blog, algo que possa ser útil, e que eu imagino que eu possa atingir mais pessoas.

Depois de criado, encaminhei para Eliane e ela aprovou. O blog entrou no ar no dia 02/07/2010 às 00:35h, e hoje completa 1 ano com 76,221 acessos.

No Augusto Abrigo eu vi muitos milagres acontecendo; indignei-me com muitas situações de animais que chegam com as seqüelas da insanidade humana; tive vontade de dizer algumas coisas para algumas pessoas que nos ligam querendo fazer doação (de ninhadas cães e gatos); chorei e choro com a partida de alguns que viraram estrelinha; chorei com a adoção dos que conheci nesse ano, pois quando sai uma adoção, entra um frio na barriga. É como um filho que viaja sozinho pela primeira vez. Na semana seguinte, como combinado, fazemos a visita, mas até o dia da visita, fico contando os dias para revê-los em suas novas moradas.

No Augusto Abrigo conheci a Serena, uma bela mestiça que tem um olhar penetrante, que me fez sentir amada com o amor mais puro que já senti. Ela sim, me resgatou e me abrigou em seu coração puro, cheio de vida, de alegria, e está aqui ao meu lado, prestando atenção em tudo que faço, brincando com a Berkana, minha beagle, dando atenção e cuidando do que elas decidiram entre si.

Minha chegada ao Augusto Abrigo, não foi um voluntariado, certamente não foi. Foi uma espécie de amadurecimento forçado, aprendi muito neste ano, aprendi sobre as várias espécies de seres humanos: os que cuidam, os que maltratam, os que sabotam, os que enganam, aprendi que posso distinguir e enfrentar os três últimos tipos. Conheci pessoas maravilhosas que estão fora dos padrões de comportamento da humanidade. Costumo dizer que são extra-terrestres.

Aprendi no Augusto Abrigo que tenho muito a fazer, e que o meu muito será pouco diante da imensidão da cena do abandono e descaso com os animais.
O Augusto Abrigo tem em seu nome um significado muito especial, que é o nome de um homem que foi exemplo de proteção aos animais, pai de Eliane. Interessante que algumas pessoas perguntam: Por que não colocam o nome de “Augusto Abrigo de Animais”? E eu no início obviamente não sabia responder, dizia que era porque Eliane quer homenagear seu pai.


Hoje eu tenho a resposta: o Augusto Abrigo, abriga qualquer tipo de animal, até mesmo os humanos.

Musica: Canção da América – Milton Nascimento
Angélica Bessa

5 comentários:

Anônimo disse...

Faltouum pedacinho nessa linda Historia (Com H maiusculo pois é Veridica) a pessoa que faz o Blog se tornou uma das Voluntarias mais apaixonadas e atuantes do abrigo e um ser humano que fará muito mais que nós, ainda somos formigas diante da grandeza que se desponta desta alma, obrigada por você ser tão você, tão autentica, tão presente.
Eliane Zanetti em nome de todos aqueles que aqui se encontram abrigados e que a ama tanto e que vc mostra ao mundo atravez do Blog

Anônimo disse...

Fica dificil de ver as fotos com os olhos embaçados de tanto chorar...

Cinthia Kriemler disse...

Arrasou, Angélica! Foi tão visceral, tão honesto, que eu, para variar, chorei! Este final, então, E A MAIS PURA VERDADE! Eu sou um desses animais humanos acolhidos pelo Augusto Abrigo! E digo mais: virou ponto de encontro meu com minha filha (é a atividade que fazemos juntas, e com prazer). só coisas boas vêm daquele santuário! Beijos!

Ju disse...

Adorei o texto, parabésn! É uma pena que els não respondam e-mails...um bjo

Anônimo disse...

lindo seu texto

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